Priorizar a catequese com adultos
É um fato irrefutável em nossa
Igreja: há sempre católicos que se afastam dela.
Brasília, 28
de Fevereiro de 2014 (Zenit.org) José Barbosa de Miranda | 446 visitas
A Segunda Semana Brasileira de Catequese foi dedicada à catequese com
adultos, sendo o seu lema: COM ADULTOS, CATEQUESE ADULTA. Vários
conferencistas discorreram sobre essa tema, apresentando pesquisas, sugestões e
perspectivas para uma eficiente catequese com adultos. Entre eles quero
lembrar Dom Juventino Kestering que, entre tantos argumentos na sua
conferência, destacou: “Muitos católicos não receberam claramente o primeiro
anúncio de Jesus Cristo, nem passaram pelo processo de crescimento e amadurecimento
pessoal da fé, através de uma verdadeira experiência catequética. Esses
católicos não sentem uma vinculação atual com a Igreja. São atraídos por outras
religiões ou anônimos e sem pertença a uma comunidade” (Estudos da CNBB 84,
p.265).
É um fato irrefutável em nossa Igreja: há sempre católicos que se
afastam dela. Sem desprezar os vários motivos que os pesquisadores apontam,
quero refletir sobre o conteúdo da catequese de algumas comunidades, sem
generalizar.
CONVERSÃO E FÉ
A catequese, respeitando a pedagogia por idade, não pode ser um verniz
que é aplicado apenas na superfície, há de penetrar na vida das pessoas,
provocando uma conversão interior. O conteúdo há de ser algo que responda a
pergunta: “vocês entenderam o que vos fiz?” (cf. Jo 13,12). O ministério
catequético é sempre o de instrução acompanhado do testemunho, devendo ter
clareza no conteúdo para provocar uma transformação espiritual.
Os elementos da catequese são ordenados não só para conhecer Jesus
Cristo, pois os demônios também o conhecem (cf. Mc 5,7-13) e continuam sendo
demônios, mas provocar uma adesão a Cristo, “num processo de conversão
permanente, que dura toda a vida” (cf. Diretório Geral da Catequese, 56). Por
isso, a fim de atender seus princípios, necessita de uma ordenação sistemática
e orgânica para entrar na revelação que Deus faz de si mesmo, contida na
Sagrada Escritura, guardada na memória da Igreja e transmitida a todos, de
geração em geração. Aqui podemos perguntar: o que o catequista está
transmitindo é o que foi revelado por Deus (catequese bíblica)? Há sintonia
entre o catequista e o Magistério da Igreja (catequese eclesial)? O catequista
vive o que transmite, frequentando os sacramentos, encarnando em si a Palavras
de Deus, amando o próximo, tendo uma vida de testemunho? Para que a catequese
provoque adesão permanente a Cristo é preciso que entenda a pergunta-ordem de
Cristo: “Vocês entenderam? [...] Como eu vos fiz, também o façais” (cf.Jo
13,12.15).
A CATEQUESE É CRISTOLÓGICA
O Pai é revelado pelo Filho. Só se chega ao Pai através do Filho: “Quem
me vê, vê o Pai... eu estou no Pai e o Pai está em mim” (Jo 14,9-10). Então,
para se chegar ao mistério revelado, que é a finalidade da catequese, ela tem
que ser cristológica. Cristo é o objeto e o sujeito da catequese. “A finalidade
da catequese é a de fazer com que alguém se ponha, não apenas em contato, mas
em comunhão, em intimidade com Jesus Cristo: somente ele pode levar ao amor do
Pai no Espírito e fazer-nos participar na vida da Santíssima Trindade”
(Catequese Hoje, n. 5).
A Catequese entra na vida de Jesus, caminha com Ele, come com Ele, bebe
comEle, sofre com Ele, aprende na escola de Jesus. A catequese não é só
instrução, transmissão de doutrina, mas uma experiência de vida em Cristo, por
isso é entender a vida através da vida de Cristo, é ver a vida através da vida
d’Ele. É muito difícil abandonar o Cristo depois de conhecê-lo por inteiro. No
discurso do Pão da vida, aqueles que não conseguiram entrar no mistério de
Cristo, debandaram-se; e Pedro, em nome dos que já haviam aderido totalmente a
Ele, dá a resposta pela fé: “Senhor, a quem iremos? Tens palavras de vida
eterna e nós cremos e reconhecemos que tu és o Santo de Deus” (cf. Jo 6,60-69).
Se a catequese não entrar na vida, no Reino de Deus que já está no meio de
nós, e que foi pregado por Cristo, torna-se um verniz que evapora e desaparece.
E poderíamos perguntar: será que muitos que deixaram a Igreja não o fizeram por
falta de uma catequese fundada em Cristo?
CONCLUSÃO À TÍTULO DE REFLEXÃO
Certa ocasião, perguntei a uma jovem que ia receber o sacramento da
Confirmação: você gostou da catequese? E ela respondeu: “gostei muito”.
Continuei: de que você gostou mais? E ela: “das gincanas, das dinâmicas”.
Insisti: o que essas gincanas e dinâmicas transmitiram-lhe? E a resposta:
“não me lembro, mas eram muito divertidas”.
Uma catequese sem conteúdo são palavras jogadas ao vento. Não educam
para a fé, facilitando o êxodo. É preciso sair de si mesmo, da individualidade
do catequista, para entrar na comunidade de Cristo, seguindo-O até o Calvário.
***
José Barbosa de Miranda é Diácono Permanente na Arquidiocese de
Brasília. Bacharel em Teologia pela PUC-Goiânia. Pós-graduado em Catequese pelo
Centro Universitário Salesiano – UNISAL – São Paulo. Professor na Faculdade de
Teologia da Arquidiocese de Brasília. Colaborador na formação dos noviços
do Seminário São Luiz Orione, de Brasília.
Para dúvidas e comentários converse com o autor desse artigo enviando um
email para: mirandajosebarbosa@hotmail.com
(28 de Fevereiro de
2014) © Innovative Media Inc.
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